7 de set. de 2008

Humanismo



O Humanismo é um movimento filosófico surgido no século XV dentro das transformações culturais, sociais, políticas, religiosas e econômicas desencadeadas pelo renascimento.Com a idéia renascentista de “dignidade do homem”, isto é, o homem está acima da Natureza, o Humanismo coloca o homem no centro do universo e seu estudo merece algumas considerações particulares.Chegando ao século XVIII, na Filosofia Moderna, o homem é concebido como um ser ativo que domina a Natureza e com isso a sociedade. Embora não haja separação entre Natureza e homem dentro do movimento humanista, o homem é diferenciado dos demais manifestando suas diferenças na racionalidade, na moralidade, na ética, na técnica, nas artes, etc.No Humanismo o homem, como ser dominante, está em sempre se aperfeiçoando através do desenvolvimento proporcionado pela sua racionalidade.Mesmo datado de longa data, o Humanismo tem influência em várias áreas das ciências humanas. Sua importância reside na fundamental ruptura entre Igreja e Ciência, carregando consigo uma visão diferenciada do homem em relação aos demais elementos naturais.Crítica:É difícil conceber Humanismo devido às várias formas em que ele foi tomado pelas ciências humanas e pelas religiões, vindo a ser “humanismos” com características diferentes. Podemos falar de humanismo religioso, humanismo marxista, humanismo existencialista, etc. No senso comum o termo “humanista” freqüentemente é usado para caracterizar as pessoas que se preocupam com as causas sociais e com a caridade.Sem dúvidas que o Humanismo foi um dos principais movimentos filosóficos que mudaram os rumos do conhecimento. Mas sua idéia principal e original foi pretenciosa demais.A idéia de colocar o homem acima de todas as coisas e acreditar que ele é capaz progredir cada vez mais na temporalidade, soa um tanto quanto otimista demais. Daí decorre as dissidências do Humanismo original entre as ciências humanas.Sartre, filósofo existencialista francês, em sua obra “Existencialismo é um Humanismo”, ironizando o fato do homem atribuir um valor de superioridade a si mesmo, questiona o Humanismo clássico: “Tal humanismo é um absurdo, pois só o cachorro ou o cavalo poderiam emitir um juízo de conjunto sobre o homem e declarar que o homem é admirável.”Nesse sentido, tomar os pressupostos do Humanismo enquanto verdade seria como dar uma definição a nós mesmos da forma como queremos. A história tem mostrado que nem sempre progredimos; que a razão nem sempre está com a “razão”; e que racionalidade não significa a nossa salvação.Obs.: o humanismo existencialista se distanciava do humanismo clássico na medida em que o homem não supera sua existência e sua condição se voltar apenas para si mesmo (o centro de todas as coisas), mas sim, procurando o devir sempre no fora de si. E é humanismo porque coloca que o homem é o único responsável de si.
Fonte: http://www.logdemsn.com/2008/03/16/o-que-e-o-humanismo-que-surgiu-no-renascimento/

Humanismos


(CASTOR BARTOLOMÉ RUIZ)

"O adjetivo humanus me resulta tão suspeitoso quanto o substantivo abstrato humanitas, a humanidade. Nem o humano nem a humanidade, nem o adjetivo simples nem o substantivado, senão o substantivo concreto: o homem." (Miguel de Unamuno)

Numa sociedade em que os grandes ideais entraram em crise e os valores se relativizaram ao extremo, o humanismo aparece como a última fronteira onde se apoiar para defesa da dignidade (humana) e para sustentar a luta pelos direitos (humanos). Neste sentido, o humanismo retornou a ser um espaço (simbólico) de disputa e de poder. Porém, o retorno do debate sobre o humanismo se faz, também, desde a perspectiva dos questionamentos pós-modernos. Vejamos alguns.

Em primeiro lugar, o uso do termo humanismo, em singular, implica uma universalização difícil de sustentar. Afinal, de que humanismo estamos falando? Ao formular em singular o conceito humanismo estamos universalizando um modo particular de entender o humano. Neste sentido o humanismo pode tornar-se uma categoria padronizadora das singularidades pessoais e culturais.

O humanismo pode ser usado (e, de fato, se usou e se usa) como um novo marco ideológico universalista para homogeneizar o comportamento das pessoas sob um padrão de valores e atitudes que se considera universal e universalizável por ser humanista. O humanismo, em singular, representaria uma perspectiva do humano que, ao universalizar-se, serviria como instrumento ideológico para submeter a pluralidade do humano a um modelo único e verdadeiro.

Ainda mais, na prática, o humanismo que vigora é uma visão ocidental do humano que foi e é usada como instrumento para colonizar os povos e sufocar a pluralidade cultural. Nestes tempos de globalização intensiva, o humanismo pode tornar-se uma poderosa tecnologia para impor valores, padrões de vida, modos de existência como se fossem os mais humanos – quando, na verdade, reflete não só um modo hegemônico de ver as coisas, senão que também esconde interesses de dominação social.

A visão do humanismo, em singular, está ancorada na percepção de que a natureza humana é uma essência uniforme que todos temos por igual ao nascer e que se desenvolve de modo particular na personalidade e cultura de cada um. Essa essência humana é identificada, na tradição ocidental, com a racionalidade. A tal de essência humana se desabrocharia de modo homogêneo em todos os indivíduos e a personalidade de cada um não seria nada mais do que o modo acidental como se dá a essência em cada circunstância.

A crítica pós-moderna ao humanismo pretende desconstruir essa pretensa essência humana universal que reduz a singularidade de cada indivíduo e de cada cultura a um mero acidente secundário. Nesta perspectiva, a ênfase está colocada na especificidade de cada sujeito e na particularidade de cada cultura. Ninguém é igual ao outro e não existe nenhum elemento cultural que se possa dizer universal ou universalizável, incluídos os valores ou princípios éticos. Não existiria nada de universal no humano que possibilitasse uma identificação plena com o outro. Neste caso tudo é relativo (exceto o relativo que se torna um princípio absoluto), pois depende de cada indivíduo e circunstância. Como dizia Ortega y Gasset, "Eu sou eu e as minhas circunstâncias".

Mas, quem sou eu? O relativismo absoluto (além de ser uma contradição em si mesma) não é uma alternativa ao humanismo singular e essencialista, pois deixa mais interrogações dos que resolve. Se não existe nada humano que nos una, então como posso reconhecer o outro como um semelhante? Se afirmarmos a singularidade e o relativismo até o extremo, e já que não existe nada em comum que nos identifique como humanos, podemos afirmar a superioridade de um sobre outro, pelo motivo que for, ou de uma cultura sobre outra? Certamente que os críticos pós-modernos do humanismo não pretendem isso; pelo contrário, seu objetivo é afirmar a singularidade sem hierarquias. Mas, ao retirar a possibilidade de natureza comum do humano, está colocado o princípio possível da desigualdade natural entre os indivíduos – e daí a uma teoria de superioridade racial é só questão de tempo, oportunidade ou circunstância.

Então deveremos afirmar o humano em plural. Temos que falar em humanismos. Há muitos modos de se realizar o humano, muitos caminhos para criar a vida, muitos horizontes para inovar a existência. Não podemos pensar o humano, nem o humanismo, como uma essência única e universal que padroniza os indivíduos e os direciona sob um modo natural de ser pessoa.

Os humanismos, longe de serem umas ideologias uniformizantes e colonialistas, são uma abertura incerta e criativa para reinventar a própria existência. Porém – e mesmo afirmando a pluralidade irredutível do humano –, existe algo de comum que nos identifica com o semelhante e que nos diferencia das outras espécies. Eu reconheço na outra pessoa (inclusive no homem/mulher do paleolítico) um outro como eu, e não o reconheço num chimpanzé. Isso não é um mero traço cultural, não é só uma identidade fabricada. O outro, que é diferente de mim e que nunca poderá ser redutível a um conceito ou essência pré-definida, tem algo de comum pelo qual podemos nos reconhecer como semelhantes e diferentes ao mesmo tempo.

O outro é uma alteridade irredutível a qualquer categoria universalizante ou sistema homogeneizador, mas ele também não pode ser diluído no relativismo das identidades culturais, como se só existisse enquanto circunstância histórica produzida por uma casual confluência de fatores.

O humano remete a uma dimensão insondável da pessoa, um sem fundo inexaurível por nenhuma essência e inexplicável por qualquer racionalidade. Esse sem fundo humano é pura criação; somos uma força criadora (imagem e semelhança do Criador) que, ao entrar em contato com o mundo, o fazemos criativamente, nos apropriando de modo singular das circunstâncias, interagindo de forma criativa com todos os fatores que nos atingem. Desse modo nos constituímos como seres únicos, como pessoas com identidades irrepetíveis. Não existe um modelo definido ou universal para ser pessoa, pois a pessoa é força criadora que interage imaginativamente com suas circunstâncias e que se autoconstitui pela própria prática criativa. A ação criadora do sem fundo humano produz ao mesmo tempo um modo de inserir-se no mundo e constitui a própria pessoa; ela se faz assim mesma pela prática criativa em interação com as circunstâncias que a afetam.

É deste modo que podemos afirmar o humano como uma natureza comum que nos permite reconhecer o outro como alguém semelhante a mim; mas, concomitantemente, esse humano é sempre único, singular e irrepetível. O outro é alguém que, como eu, se autoconstitui pela prática singular da ação criadora – capacidade criadora que reside na natureza comum do humano e que é um sem fundo insondável de ação inovadora.

Podemos (e devemos) afirmar a pluralidade dos humanismos ao mesmo tempo em que sustentamos uma natureza comum do humano. Isso sem petrificar o humano numa essência comum padronizadora nem diluir a pessoa num relativismo inconseqüente.

Fonte: http://www.humanas.unisinos.br/info/castor/index.htm