2 de nov. de 2008

EU


(Yuji Martins Kodato)
Uma conclusão, ou um simples pensamento – uma vez que a poesia nunca se conclui no papel – se entrelaçou entre os meus dedos. As palavras soam ridículas, simplistas demais pela enunciação que as precedem: se sou um poeta, – se é que existem não-poetas entre as coisas que vivem – sou um poeta com um único texto a escrever.
O problema é que sou eu mesmo esse texto, e assim sendo não sei como abandonar o poeta e me colocar, enfim, como poesia. O problema se complica quando afirmo, com toda certeza que um homem são pode ter – ou seja, não tanta, mas toda que se pode ter – que sou tudo aquilo que se pode ser, que posso ser tudo aquilo que é. Por outro lado, pode-se resumir e simplesmente dizer que ser humano é isso mesmo: aquilo que todos escrevem de tantas formas diferentes e todos entendem por suas metades. E isso até me faz arriscar que ser humano é mesmo um ser fim de pedaços, metades e um-terços, que nós imaginamos como perfeição. Há quem diga que nunca se unirão, há quem diga que se unem pelo que serão. Se for assim, assumo com um ânimo nem tão heróico e poético – tão vivo como a rotina que precisa ser – essa singela função: escrever pedaços do que a vida humana é.
Às vezes penso que nunca vou conseguir, e o prazer de buscar o inalcançável me lembra que humano é aquilo que é quando não chega a ser. Ou aquilo que é quando chega ao não ser. Às vezes, um pequeno sorriso me faz, ao pensar que escrevo um longo fim de pedaços, metades e estrofes, e que é isso mesmo, que se unem e se fazem vida pelo que poderiam ser.
Quem sabe. Se você sabe, não me conte a resposta.

O HOMEM CONTEMPORÂNEO



COMO VIVE O HOMEM CONTEMPORÂNEO: seus prazeres, temores, conflitos e sofrimentos.

Acredito que nunca o homem procurou e criou tantas fontes de prazer, como na contemporaneidade. São lançamentos e mais lançamentos de jogos, filmes, músicas, etc.. A indústria de videogames e afins nunca lucrou tanto. As boates e bares nunca estiveram tão cheios. Nunca se explorou tanto a sexualidade humana. As grandes marcas de bebidas alcoólicas nunca cresceram assim.
Vejo o homem procurando algo para preencher um vazio profundo dentro de si, tentando encontrar ocupação para mentes vazias, tentando fugir de algo que nem se conhece. O homem tem sim encontrado muitas fontes de prazer, mas a maioria delas é passageira e superficial, fogo de palha, que não consegue suprir o desprazer que existe no mais profundo da alma humana.
Ao tentar compreender quais são os prazeres do homem contemporâneo, ouso dizer que o que mais se compreende são os temores deste homem. Creio que com essa busca incansável por prazeres superficiais o homem tenta fugir do seu maior inimigo, seu maior rival, aquele que lhe causa mais medo e temor: ele mesmo.
Posso ver hoje um homem que cria uma realidade virtual para não precisar conviver com sua “realidade real”. Um homem que bebe antes de dormir para não ter que deitar a cabeça no travesseiro e ficar pensando no dia de amanhã. Ou se pensar, não se lembrará no dia seguinte. Vejo um homem que se espreme em uma boate lotada para se sentir entre amigos, que está no meio de uma multidão e ainda se sente só. Posso ver homens se atolando com trabalho para não ter que voltar para casa e conviver consigo mesmo. O trabalho pode ser assustador, mas não tanto quanto ele mesmo. Vejo homens que hoje podem ter qualquer mulher no mundo, mas nunca terão o amor de nenhuma delas. Homens (e mulheres) que não querem firmar compromisso com ninguém, pois assim não precisaram ouvir a verdade sobre si mesmos e novamente reencontrarem com seu vilão mais temido.
Posso observar um homem contemporâneo que não suporta ser ao mesmo tempo Batman e Coringa, Deus e Diabo, bem e mal, pacificador e gladiador. Um homem que não compreende seus poderes e limites e não sabe o que pode ou não fazer. Penso que o homem tem medo do que pode encontrar dentro de si, porque pode ser que seja algo bom, mas e se não for? O que farei com tanto mal dentro de mim? Será que este mal é tão mau assim?
Pode ser também que ao olhar para si o homem encontre o bem, algo bom. Mas será que o bem é tão bom assim? Fazer bem a alguém não faz mal a mim? Será que quero ser bom? Ou não sou bom suficiente para ser bom? Porém, o quadro pode ser ainda pior. E se ao olhar para seu intimo o homem encontrar bem e mal convivendo juntos? O que fazer? São tão antônimos, mas parecem conviver tão bem?
O homem vive uma gangorra, um paradoxo infinito, um contentamento descontente. Penso que o maior temor do homem é sofrer por causa de seus conflitos ou então, resolvê-los e descobrir que os prazeres que viveu não passaram de mera fuga de si mesmo.
Você pode pensar que falo de mim, de você, ou de alguém que conheci.

Não se engane, falo de todos nós, afinal, quem não sofre?

Quem não teme?

Quem não tem dúvidas?

O homem contemporâneo sou eu, é você, é qualquer um que vive preso em seu paradoxo infinito.


(Analice Neres de Almeida Oliveira - 4P - PSICO-UFU)