6 de set. de 2008

O arquétipo junguiano

(Gilberto André Borges)
O inconsciente é parte da psique humana e está presente em todas as nossas atitudes e em todos os momentos de nossa vida. Durante o sonho é que se manifesta de maneira mais explícita e com todo o simbolismo de seus arquétipos. Segundo Jung, “o sonho é um fenômeno psíquico normal que transmite à consciência reações inconscientes ou impulsos espontâneos”. Esses fenômenos nem sempre fazem parte da vivência pessoal do indivíduo.
Segundo sua linha de argumentação, conclui que a mente também sofreu um processo de evolução: “Nossa mente não poderia ser um produto sem história.” E que nossa mente atual está baseada na estrutura mental dos homens pré-históricos, assim como nossa estrutura física também se baseia no corpo do homem primitivo. Estes elementos que aparecem no sonho e que não fazem parte das experiências do indivíduo são o que Freud chamava de “resíduos arcaicos” e que Jung denominou “arquétipos” ou “imagens primordiais”.
Arquétipos não são conceitos prontos, facilmente explicáveis pela nossa linguagem formal e lógica, pois são registros da evolução da nossa mente gravados no inconsciente através de símbolos e é esta linguagem simbólica dos arquétipos que encontramos no sonho.
Chamamos instinto aos impulsos fisiológicos percebidos pelos sentidos. Mas ao mesmo tempo, estes instintos podem também se manifestar como fantasias e revelar, muitas vezes, a sua presença através de imagens simbólicas. São a estas manifestações que chamou de arquétipos. A sua origem não é conhecida; e eles se repetem em qualquer lugar do mundo - mesmo onde não é possível explicar a sua transmissão por descendência direta ou por fecundações cruzadas resultantes da migração
Jung cita alguns exemplos que aliados a este argumento, discutem a veracidade da existência dos arquétipos em nossa mente. “Então por que supor que seria o homem o único ser vivo privado de instintos específicos, ou que a mente desconheça qualquer vestígio de sua evolução?”, pergunta.
Para ele, alguns sonhos adquirem um aspecto de premonição porque a mente inconsciente, assim como o consciente também se ocupa do futuro e também possui a capacidade de examinar e concluir. “... Pode mesmo utilizar certos fatos e antecipar seus
possíveis resultados.”
Assim como os complexos, os arquétipos também possuem uma energia própria, mas enquanto os complexos agem a nível individual, acarretando conseqüências para um só indivíduo, os arquétipos agem a nível coletivo até mesmo influenciando a humanidade a determinadas atitudes diante de fatos históricos.
Quanto mais avançamos cientificamente e julgamos elucidar os mistérios da existência, mais nos afastamos da natureza e ilusoriamente de nossos símbolos e mitos, pois apesar de o homem contemporâneo se julgar evoluído o suficiente a ponto de não necessitar de mitos, se encontra cercado por eles sem o saber. Apenas nos distanciamos de nossos mitos arcaicos. Isto pode ser prejudicial, pois estes símbolos não se perdem, mas passam a agir de maneira indireta e fazem isto por meio da força dos arquétipos, no inconsciente. Em nível pessoal, isto pode manifestar-se através de neuroses ou de comportamentos diversos que chamamos idiossincrasias e a nível coletivo, influenciar o modo de pensar e agir de todo o contingente humano em determinada época ou cultura. A repressão aos nossos símbolos inconscientes pode até mesmo ser perigosa e
Jung cita dois exemplos históricos recentes: a tão civilizada Alemanha, que deflagrou no início do século duas sangrentas guerras e a “guerra-fria” entre o mundo ocidental e a antiga União Soviética do período Stalinista. À luz da ciência, a humanidade afastou-se de seus símbolos e mitos e perdeu a noção do sagrado que dava significação a sua existência. As pessoas têm a impressão de que há, ou haveria, uma grande diferença se pudessem acreditar positivamente num sentido de vida mais significativo, ou em Deus e na imortalidade.”
Jung destaca dois tipos de símbolos: os “símbolos naturais” e os “símbolos culturais”. Os “símbolos naturais” são os símbolos inerentes ao desenvolvimento da psique humana e os “símbolos culturais” são aqueles assimilados pelo homem do seu meio e tomados ao pé da letra transformando-se em “verdades eternas”, o que é ilusão, pois verdades eternas não existem. O homem contemporâneo afastou-se de seus mitos e símbolos religiosos e “privouse dos meios de assimilar as contribuições complementares dos instintos e do inconsciente”.
Isto gerou um desequilíbrio, compensado, entre outras formas, a nível individual pelos sonhos. Jung disserta sobre a importância dos símbolos na interpretação dos sonhos. Os símbolos podem ter diversas funções. Dentro do sonho, por exemplo, podem querer transmitir ao indivíduo mensagens referentes às conclusões do inconsciente referentes ao futuro (premonições), ou uma gama enorme de significados, que devem ser analisados caso a caso, pois variam de indivíduo para indivíduo, segundo seus códigos de valores e sua vivência.

B I B L I O G R A F I A
JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro. Ed. N. Fronteira, sd


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