14 de jun. de 2010

O milagre de Anne Sullivan


Marco Aurélio Silva Esteves (aluno do 2º período de Psicologia-UFU)


O filme relata um caso verídico que se passa no sul dos Estados Unidos no qual uma professora, Anne Sullivan, que se dispõe a ensinar uma criança de sete anos, Helen Keller, que é cega e surda, e por estes motivos também poderia se decretar sua mudes, já que não poderia ouvir as palavras e nem ver os movimentos labiais realizados para pronunciá-las.

Helen já estava com sete anos quando Anne foi para sua casa educá-la e até então não sabia comer com talheres, se higienizar, entre outros comportamentos. Com isso podemos observar que no seu repertório ainda não havia comportamentos ou habilidades sociais que ao longo da história de vida em sociedade, pelos seres humanos, foram edificados como sendo essenciais para considerar o animal homem como ser humano. Além disso, o filme nos mostra o quanto somos dependentes de outros seres para construirmos nossa própria subjetividade, nossa personalidade, para sermos quem somos, e o quanto o ser humano é um “animal domesticável”. Pois, neste caso a criança foi educada por um ser humano e por isto aprendeu nossos costumes, nossas regras sociais, o que para nós é higiênico ou não, o que é aceitável ou não, mas poderia ter sido abandonada e acolhida por outro animal como um macaco, assim sendo aprenderia os costumes deste animal e não os nossos. Nós não nascemos prontos, vamos nos construindo e sendo construídos através de relações,entretanto, possivelmente também não morreremos prontos... Visto que a sociedade também muda e tem novas exigências para que se tenha uma vida agradável.

A família de Helen tinha um amor muito grande pela garota, porém este amor ao mesmo tempo em que acolhia fazia com que a garota se tornasse agressiva, instável e egoísta, já que não conseguia lidar com o não, outra regra que é aprendida em sociedade: “Não se tem tudo que deseja”. Mas Helen tinha tudo que desejava, e para educá-la Anne precisou tirá-la do seu Ethos para que ela entendesse que haveria de aprender a se relacionar de outra forma, haveria de edificar um eu diferente para obter sucesso em suas relações sociais, pois, ela não enxergava, falava ou ouvia, mas era dotada de necessidades biológicas. E para sanar estas precisava ter ciência de como obter relações sociais bem sucedidas de uma forma mais sociável. E Anne através do tato, olfato e paladar conseguiu ensinar para Helen a soletrar o que foi o primeiro passo para que ela relacionasse nomes a objetos, comportamentos, lugares e pessoas.

Afinal o que faz de nós seres humanos? “Ser humano”, quase um título, como se fosse uma honra ser humano. Capacidade de raciocinar? Viver em sociedade? Capacidade de pensamento lógico matemático? Seria um honra ser humano, se sendo humano eu pudesse dividir tudo isso que é ser humano, e ser humano é aprendido e o aprendizado não é coletivo, ele beneficia algumas classes e detrimento de outras. Desta forma podemos pensar que existem seres mais humanos do que outro, já que uns possuem pensamento lógico matemático mais apurado, não em virtude de diferenças individuais, mas em virtude de oportunidades. Outros conseguem viver melhor em sociedade, afinal tiveram uma educação mais requintada em colégios, famílias e universidades que são selecionadoras, e não selecionam a vontade que cada ser carrega em si, selecionam poder aquisitivo, claro que nem todos são assim. Contudo estes fatos convocam os “seres humanos” a viverem em uma sociedade dividida, enquanto uns freqüentam restaurantes requintados, festas com excesso de comida, vivem em gostosas temperaturas proporcionadas por seus climatizadores e tomam o vinho sagrado outros vivem as beiras do inferno, comendo o pão amassado e jogado no lixo que não foi o diabo quem amassou e sim o seu “semelhante”. E se Helen não tivesse sido educada, teria sido assim mesmo humana?

Gostaria eu que sim.

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