1 de jul. de 2010

A Gestalt em nossas vidas


(Ana Paula Leite Oliveira - 2º período de Psicologia - UFU)

Nós seres humanos como animais dotados de consciência, somos capazes de alternar nossas percepções, fazendo escolhas entre as diversas possibilidades apresentadas pelo meio, e só então, temos acesso à realidade escolhida. Não somos capazes de captar simultaneamente situações discrepantes. Aquilo que percebemos do mundo é consequência daquilo que escolhemos perceber. Somos seres de percepção e seres de organização (do mundo, das coisas que nos cercam), e assim como organizamos o meio temos que organizar nossa psique, nosso ser, nossa consciência no tempo e no espaço em que vivemos. Às vezes nos enraizamos em um único ponto de vista e não nos dispomos a sair dele, acreditando que essa é a única visão correta acerta das situações apresentadas. No entanto, para melhor interagirmos com o meio, com a sociedade na qual estamos inseridos, o ideal é que tenhamos uma visão ampla das coisas, e para isso precisamos mudar nossos pontos de vista, devemos nos permitir ver as coisas de outro modo e permitir que outras pessoas nos mostrem seus pontos de vista. Temos que buscar a flexibilidade.

Abrangendo essa perspectiva, a abordagem gestáltica enfatiza que o homem não pode ser estudado separado em partes, de modo analítico. Funcionamos como um todo, um conjunto organizado em que “o todo é maior do que a soma das partes”. De acordo com Kurt Goldstein, neurologista criador da Teoria Organísmica, a auto-regulação é uma das características fundamentais do funcionamento de qualquer organismo (LIMA, 2009). Para ele a auto-regulação organísmica é uma forma de o homem interagir com o mundo, em que podemos nos atualizar, respeitando nossa natureza da melhor maneira possível. Para que essa auto-regulação aconteça, é fundamental que tenhamos novas respostas para as situações pelas quais passamos em nossa permanente interação com o meio. Segundo citação do autor (GOLDSTEIN, 1995, p. 50): “O meio-ambiente de um organismo não é absolutamente algo definido e estático, pelo contrário, está em metamorfose contínua, comensurável com o desenvolvimento do organismo e sua atividade”. Diante disso é possível acreditar que nos auto-regulamos, optando pela execução de ações que nos satisfaçam em detrimento de outras, e quando tal satisfação é completada, essa deixa de ser o foco e damos então prioridade a outras ações.

A perspectiva anteriormente exposta ilustra uma das principais questões trabalhadas na Gestalt-terapia, a questão figura-fundo. Nesse cenário, ocorre muitas vezes de não conseguirmos visualizar o que se passa em nossas vidas. Aí então, a ação do Gestalt-terapeuta é nos auxiliar a enxergar as situações diárias em que estamos inseridos, buscando para isso um fundo condizente com tais vivências. Uma vez que, sem um fundo não somos capazes de enxergar a figura. Por exemplo, sem sabermos o que é doença, não conheceremos a saúde; não sabemos o que é delicadeza sem sabermos o que é violência. O que para nós hoje pode ser figura, um dia passará a ser fundo, aí então desejaremos uma nova figura, assim como explicado por Kurt Goldstein. Cabe também a nós, sermos flexíveis pra sabermos enxergar corretamente o que é cada um desses elementos em cada dado momento.

Nesse aspecto, cada momento de nossa vida é constituído por uma Gestalt, em que seu início se dá com a criação de uma figura e seu fim, na transformação dessa figura em fundo. É de suma importância que cada uma dessas etapas se conclua corretamente, se encerre. Caso contrário, nos tornamos pessoas com uma bagagem de gestalts inacabadas, que cedo ou tarde se transformarão em sentimentos conflituosos e problemáticos. Gestalt incompleta é um assunto pendente que exige resolução. Normalmente, isso assume a forma de sentimentos não resolvidos expressos de maneira incompleta. Segundo Dudenhoeffer (s/d) "O ser humano é um colecionador de despedidas mal feitas, de olhares mal dados para as vivências de perdas. O que foi vivido, em muitas situações, só é realmente fechado, ao retornar numa vivência de situação presente, que facilite o aparecimento do real acontecimento, com sua intensidade perceptível e assumida" (p. 2).

A consequência mais frequente de uma gestalt incompleta é sua manifestação na forma de alguma doença. Somos uma unidade mente-corpo, o que ocorre em uma parte afeta o todo. A maioria das doenças está na dependência tanto de fatores físicos como emocionais. Cracel (2005) explicita que "O ser humano é uma unidade complexa, composto de vários sistemas que entrelaçados e coordenados buscam atingir um funcionamento harmonioso. Esses sistemas têm como objetivo integrar o indivíduo como um todo, envolvendo aspectos psicológicos, físicos, químico e biológicos sob influência das relações sociais" (p.15).

Somos compostos por partes, sendo cada parte integrada em uma diferente Gestalt. Nosso corpo e mente são indissociáveis. Somos um todo em que nossas partes influenciam e são influenciadas. O que acreditamos ser não necessariamente é, ao passo de que o que é pode a qualquer momento passar a não ser. Nessa espiral figura-fundo vamos constituindo nossas vidas, nos auto-regulando sempre em busca de uma harmonia individual e também para com o meio no qual estamos inseridos.

Cracel, D. L. (setembro de 2005). Síndrome do Pânico dentro de várias visões com ênfase em Gestalt-terapia.

Dudenhoeffer, M. C. (s.d.). “Da perda à saudade“ A despedida enquanto processo.

Goldstein, K. The Organism. Nova York: Zone Books, 1995.

Lima, P. A. (1º Semestre de 2009). Criatividade na Gestalt-terapia. Estudos e Pesquisas em Psicologia, UERJ, RJ , pp. 87-97.


2 comentários:

Anônimo disse...

Roubaram seu texto. Cuidado. Existe no google uns htmls simples para impedir seleção de texto e clique de mouse na sua pagina, é só procurar no google.

O blog que te copiou foi o yulecavalcantedealbuquerque.blogspot.com.br/

Dá uma olhada lá.. Eu achei o seu blog copiando a primeira frase do texto e colocando no google, porque eu sabia que essa menina nao tinha capacidade para escrever um texto bom desse, com gramática impecável. E por sinal, ótimo texto, parabens!

Anônimo disse...

Fizeram o mesmo comigo: pegaram textos meus e roubaram, até mudando o título do texto. Eu fico pensando: se a pessoa não tem criatividade e capacidade pra criar texto em um blog, porque diabos ela criou o blog então??