(Hugo Cesar Palhares Ferreira - meu ex aluno querido)
INTRODUÇÃO
A proposta do presente trabalho é um tanto quanto diferente para mim, pois escrever de forma existencial e em primeira pessoa apesar de parecer uma tarefa sem grandes possibilidades de erros grotescos nos permite descrever coisas e situações pouco atraentes para a grande maioria das pessoas.
Porém como o propósito é diferente então me entregarei ao pressuposto. Mas acabo caindo novamente em outro vão, pois quando é livre a forma de se expressar, como falar o que quero falar sem generalizar minhas emoções para o resto da humanidade? Tornar o que é tão meu e rico em alguma coisa pobre e sem sentido para todos os outros, como falar de mim sem me comparar com o mundo, se o mundo também é tão diferente dos meus sentimentos. Vejo apenas uma solução, vou expor meu ser aqui de uma forma geral, mas quero que todos que leiam compreendam que não estou falando da humanidade em geral, mas da minha humanidade, do meu estar, mas como todo vivente acho que o mundo sente o mesmo que eu, mesmo sabendo que não é bem assim (já é uma de minhas generalizações).
Voltando a proposta de uma escrita existencial, continuarei a falar do texto que se segue, tudo bem com o que foi proposto posso fazer um texto em que estou dentro dele em sentimentos e comportamentos, mas ao falar dessa humanidade (essência?) não quero cair em assuntos vagos que não interessam a vocês (a mim) e ser superficial em vários contextos, então por mais normal que possa parecer me senti na obrigação de elucidar que este será dividido em Introdução, Desenvolvimento e Conclusão; farei que o primeiro e o último destas divisões sejam completamente pessoais e sem o envolvimento direto com outros textos, enquanto deixo livre para o desenvolvimento que outros textos (pessoas e idéias) se façam presentes, já começo aqui a relacionar o próprio texto com os humanos, apenas o desenvolvimento permite esta interferência direta com citações e etc. mas o início e as conclusões são extremamente solitárias e desamparadas, mas isso não deixa de ser bonito, pois nada nos é mais próprio que a fala que trazemos das próprias elucubrações, então ao mesmo tempo que me agrada transformar em idéias as idéias alheias me sinto sozinho quando as coloco no papel, mas o que me revitaliza novamente é que provavelmente este texto que coloquei sozinho em uma introdução, poderá novamente ser parte do desenvolvimento de alguém (texto ou pessoa).
A idéia principal deste texto é comparar o estilo de vida real e místico na formação do trabalho humano e na valorização da inocência, a transformação da inocência para o homem que trabalha – o ser que trabalha por ter em si pecado do conhecimento – e como o homem aceita ou não sua desventura em sentimentos e construções psíquicas, sociais e principalmente filosóficas.
Ao pensar em escrever sobre o ser e seu estar, logo me veio a mente construir algo no mesmo sentido que baumam em seu livro sobre a comunidade explicitou em seu primeiro capítulo uma história bastante interessante sobre Tântalo, um ser humano que tinha um ótimo convívio com os Deuses mas cometeu um crime que foi condenado e punido pelos Deuses, Quanto à natureza do crime, os vários narradores da história discordam. Alguns dizem que ele abusou da confiança divina e revelou aos outros homens mistérios que deviam permanecer ocultos dos mortais. Outros dizem que ele foi arrogante a ponto de se acreditar mais sábio do que os deuses, tendo decidido testar os divinos poderes de observação. Outros narradores ainda acusam Tântalo de roubo de néctar e ambrósia que nunca deveriam ser provados pelos mortais. Os atos imputados a Tântalo são, como vemos, diferentes, mas a razão por que foram considerados criminosos é a mesma nos três casos: Tântalo foi culpado de adquirir e compartilhar um conhecimento a que nem ele nem os mortais como ele deveriam ter acesso. Ou, melhor ainda: Tântalo não se contentou em partilhar a dádiva divina — por presunção e arrogância desejou fazer por si mesmo o que só poderia ser desfrutado como dádiva. Quanto à punição Tântalo foi mergulhado até o pescoço num regato — mas quando abaixava a cabeça tentando saciar a sede, a água desaparecia. Sobre sua cabeça estava pendurado um belo ramo de frutas — mas quando ele estendia a mão tentando saciar a fome, um repentino golpe de vento carregava o alimento para longe.
Claro que os mitos colocam de forma caricaturizada aquilo que quer nos ensinar, então faço as trocas que penso que tornaria mais fácil o entendimento, Tântalo poderia continuar a ser feliz e conviver bem com os Deuses desfrutando de tantos prazeres se não fosse a necessidade que lhe ocorreu de dividir o que sabia com os homens, ele pegou o saber e o tornou seu e sentiu que poderia distribuir, claro que nas histórias não é a primeira vez que acontece ta maneira, voltemos então a Adão e Eva, eles também tinham uma vida muito parecida com Tântalo, vivia bem com Deus e tinha tudo que necessitava, mas quando tiveram a oportunidade de conhecer e difundir o conhecimento que estava próximo também foram punidos e expulsos do bom viver com esse Deus. Baumam então ao se aperceber dessas histórias diz que o caminho da felicidade está em manter a inocência, pois foi exatamente quando Tântalo se sentiu dono do saber e Adão e Eva tomaram o saber para si é que se perdeu a inocência das coisas e com isso o castigo da expulsão da felicidade tenra.
E ao que parece pelo menos para alguns Deuses o trabalho é o pior dos castigos, pois se quer ter algo terá que buscar, e não terá nenhuma intervenção Divina para auxilia-lo, foi assim com o Deus Bíblico, os Deuses Gregos também não ficaram atrás nesse castigo, e tanto para um quanto para outro a inocência é algo que quando perdida não tem volta, muito menos perdão.
Parece que culpamos muito os Deuses para os trabalhos humanos, então como a transformação da inocência para o saber é vista pelo homem? Pelo que percebo os humanos também vêem a perda da inocência como algo para ser punido pelo duro e ingrato trabalho, pois é exatamente quando temos saber o suficiente que somos colocados em algum ambiente para trabalhar e assim nos tornarmos responsáveis por nós mesmos, afinal quando somos inocentes crianças não precisamos nos preocupar com o trabalho ou em como as coisas nos são dadas (casa, comida, fantasias, etc.) apenas desfrutamos destas coisas, mas nos desenvolvermos começamos a perceber que devemos estudar, ou apenas compreender, que se não trabalhar logo não terá mais estas regalias divinas, então ao perder esta inocência somos destinados ao trabalho, assim como castigo de todos os Deuses.
Agora temos então um Ser que trabalha e que não é inocente, dono do seu próprio destino, pronto para viver a aventura da vida e talvez retornar ao convívio dos Deuses, mas na minha leitura parece que já concordamos em viver longe deles, pelo menos nos acostumamos a estar longe dos prazeres imediatos e inocentes que eles podem nos oferecer, gostaria nesse momento que nos colocássemos no lugar de Adão e Eva (vou facilitar), nos coloquemos de volta quando éramos inocentes crianças que tínhamos uma liberdade limitada pelos nossos Deuses (Pais), quando perdemos a inocência não apenas o trabalho nos espera, mas a liberdade de poder trabalhar e conquistar mais coisas e quem sabe nos transformar nos mesmos Deuses que agradecíamos as graças dadas, e quando essa possibilidade aparece não queremos mais voltar a ser inocentes crianças, mas sim de controlar e ter poderes suficientes para nos prover de regalias e servir de regalo a outros (inocentes?).
Orlandi ao falar da morte de Deus e a liberdade do homem no seu texto diz que: suponhamos que Deus não exista. Se Deus morreu, que acontece com o homem? Neste caso, diz Sartre, o homem está essencialmente “abandonado”, isto é, o homem se encontra na impossibilidade de “enganchar” sua existência em algo que poderia servir-lhe de apoio essencial: um apoio sumamente seguro fora do homem e/ou suficientemente seguro numa essência interior a ele. Então, se o homem vive em estado de abandono, as condutas, paixões e valores humanos só podem obter compreensão em função dos combates que se travam na própria existência humana.
Claro que quando digo que somos abandonados por nossos Deuses vou quase que na mesma direção da morte dele, mas existem diferenças entre elas é que às vezes podemos orar e conseguir graças divinas, afinal não estou na visão de Sartre na morte de Deus, mas do castigo do abandono, não somos órfãos (quer dizer muitos sim) mas podemos buscar vários homens que em nossa concepção sejam Deuses (pais, patrões, anciãos, ou alguém com poderes de influência ou financeira). Mas o que quis mostrar com o texto de Orlandi é que nos sentimos abandonados e esse abandono nos renega à liberdade, pois não é nossa culpa se Deus não existe mais, mas a inexistência dele nos coloca na mesma dualidade de quando perdemos a inocência, somos livre e temos que lidar com isso, um pouco mais a frente no texto, Orlandi menciona que “se sou condenado a ser livre, sou “responsável” por tudo aquilo que faço, sou radicalmente “condenado, a cada instante, a inventar o homem” que sou, de modo que não posso acreditar que vivo determinado como coisa entre as coisas.”
A responsabilidade de ser livre e pagar por essa liberdade, seja essa liberdade um preço a se pagar pela inocência ou apenas um carma herdado pelas gerações, é muito comum e parece ser inerente o ser que desenvolve (trabalha), mas como perceber o ser que se é, se a liberdade não está presente, então direciono meu pensamento para uma questão existencial de Kierkegaard mencionado por Frazão, diz que “o ser que conhece, que atribui significados, não pode abstrair-se de si mesmo e contemplar a existência como sendo subespécie da eternidade. Através das dificuldades, as incertezas, os conflitos, o homem pode chegar à constituição moral e ao crescimento espiritual.”
Fico a pensar sobre esse crescimento espiritual e chego novamente à busca do homem que deseja ser divino pelo trabalho (existir), mesmo este trabalho não sendo uma busca individual, mas o resultado de outro pecado. Agora imagino se o Ser precisa deixar de ser inocente para ser divino ou se a busca pela divindade é uma desculpa do Ser para não buscar meramente sua sobrevivência.
CONCLUSÃO
Pensar sobre o trabalho humano independente da natureza (do trabalho), é muito interessante mas nos permite claro muitas interpretações, desejei demonstrar neste texto uma das minhas visões do servir e das divindades, acredito sim em um homem que deseja, que trabalha, que é divino e que é órfão de seus Deuses, mas também acredito que um dia esse mesmo homem vai ser divino (se já não o é) para alguém e que também chegará a abandonar forçando o humano que crê no ser que trabalha e assim continuar um ciclo que não merece julgamento.
Mas saio deste texto com o sentimento de que terminei o que eu havia me proposto, e na solidão da conclusão como mencionado no início me separo de mais uma etapa de um trabalho concluído, talvez esteja eu mais perto de ser divino a cada etapa de trabalho feito. Quem sabe.
REFERÊNCIAS
BAUMAM, Zigmunt. Comunidade: A Busca Por Segurança no Mundo Atual. Tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
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