10 de nov. de 2010

SOBRE MIM

(Jaqueline Bernal Campos Baggio - ex aluna)

Eu, Jaqueline, estou sentada na frente do computador pensando. Pensando em um possível tema a escrever, e tantas idéias passam pela minha cabeça, mas elas logo deixam de permear os meus pensamentos. E então eu penso, que tarefa complicada essa de escrever um artigo, depois de tanto tempo na faculdade apenas reescrevendo as idéias dos outros, tenho a oportunidade de escrever as minhas próprias idéias, mas onde elas estão? Acredito que talvez elas estejam esquecidas no meio de tantos fichamentos e relatórios que agora me parecem sem sentido.

E assim, paro apenas por alguns instantes para pensar, e luto para não ser atropelada pelos meus próprios pensamentos e minhas cobranças, a que na verdade é a minha necessidade de sempre achar que tenho que produzir algo, mas nunca pensar no que eu estou produzindo. Sobre a correria do dia-a-dia Cortela (2006) acredita que:

“Na correria do dia-a-dia, o urgente não vem deixando tempo para o importante! (...) Essa demora em pensar mais, esse retardamento da reflexão como uma atitude continuada e deliberada, vem produzindo um fenômeno quase coletivo: mais e mais pessoas querendo desistir, largar tudo, com vontade imensa de sumir, na ânsia de mudar de vida, transformar-se, livrando-se das pequenas situações que torturam, amarguram, esvaem” (p. 59-60).

E nessa luta com os meus pensamentos, começo a refletir para que lado eu estou “sendo levada” na minha formação, penso na total incerteza que me aguarda nos próximos meses, talvez até anos. Quando eu digo “sendo levada” isso tem um significado atual na minha reflexão, o de que eu sempre fiz as tarefas que me eram atribuídas, mas nunca produzi algo meu, com a minha cara, com o meu jeito e principalmente com os meus pensamentos, talvez até os meus pensamentos agora sejam reprodução de alguma grande obra, de algum grande autor. Porém desistir, não permeia os meus pensamentos, talvez porque tenha continuado meus pensamentos enquanto fazia as minhas tarefas. E tudo o que eu fazia era representado por um sonho, o sonho inicial de me formar, depois de ser psicóloga e agora de fazer diferente. Diferente, devido a singularidade e subjetividade de cada um.

Hoje mais do que em qualquer outro momento da minha vida penso sobre o meu futuro, que futuro “diferente” eu vou ser. Estou pra sair da faculdade com uma única certeza, de que ainda vou ter que estudar muito. Esse estudo é representação de responsabilidade com aquilo que irei fazer, um compromisso com as pessoas que pretendo ajudar. Compromisso comigo mesmo de consolidar conceitos, ou até mesmo reformulá-los totalmente. E esse “futuro diferente” será construído a partir de todas as minhas experiências conscientes.

Com tanto sentimentos misturados penso na minha formação com tanta insegurança, e acredito que isso não seja uma sensação única, mas compartilhada com muitos que estão a se formar, de um não saber muita coisa, não estar muito preparada, mas a certeza de que a preparação para uma atuação e a sabedoria vem depois de quedas, de erros e acertos. Ontem mesmo li na contra capa de um livro na livraria, “viver é sofrer”.

“A sabedoria não se transmite, é preciso que a gente a descubra depois de uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar, e que ninguém nos pode evitar, porque a sabedoria é uma maneira de ver as coisas.” (CORTELLA, 2006, p. 119-120)

Bueno (1997) afirma que para a fenomenologia o método exige uma reflexão: uma retomada descritiva da própria vivência para a consciência atual, diferente do método do introspeccionismo que apenas a vivência constitui um saber da consciência.

Então, a fenomenologia é como as coisas aparecem na consciência, e o fenômeno é aquilo que aparece na consciência. Assim como temos uma postura fenomenológica descrevemos, reduzimos e interpretamos um fenômeno. Dessa maneira quem adota uma postura fenomenológica deixa em suspenso as suas idéias, opiniões, preconceitos para o outro se mostre quem é, e como ele é. Bueno (1997) cita:

“Não existe o homem interior, o homem é no mundo”, e, a verdade, portanto, não se encontra num suposto homem interior, mas “é no mundo que ele se conhece” (Merleau-Ponty, 1954; citado em Lyotard, 1967, p. 58).

Depois de participar da mesa redonda na última aula da disciplina de prática clínica, e começo a pensar em que concepção de homem eu vou levar comigo a minha vida profissional? Será que o sofrimento, a doença é a maneira de se expressar no mundo?

Existem muitas outras reflexões que quero levar para a minha atuação profissional. E acredito que para ter o meu “futuro diferente” essas reflexões, muitas leituras que ainda quero fazer, escritas que penso em desenvolver vão fazer a diferença para mim.

Esse pequeno ensaio escrito por mim teve a simples pretensão de descrever algumas angústias experimentadas nessa faze pré-formatura.

Referência Bibliográfica:

BUENO, José Lino Oliveira. Body, consciousness and psychology. Psicol. Reflex. Crit. , Porto Alegre, v. 10, n. 1, 1997 . Disponível em: . Acesso em: 22 Jan 2008. doi: 10.1590/S0102-79721997000100010

Cortella, M. S. Não nascemos prontos! Provocações Filosóficas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

Agradeço a Professora Analu por proporcionar uma disciplina em que privilegiou as reflexões, as considero muito importantes para a minha formação.

Muito Obrigada!

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